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terça-feira, 24 de março de 2015

Se você está voltando hoje à ativa, saiba como é o negócio musical de hoje


Faz 15 anos que você saiu do mercado da música, e quer voltar fazendo discos bolachão e tentando colocar seus sons no rádio? O pior é que você está certo: muita coisa mudou neste tempo.

“Faz 15 anos que eu não lanço um CD. O que mudou?”

Se você está fazendo essa pergunta, deixe eu te dar os parabéns por ter voltado ao mundo da música; bem-vindo a um novo jogo. Limp Bizkit e Creed não estão mais dando as regras (nem fazendo música). Will Smith parou de reeditar hists de discoteca dos anos 1970. E a maioria dos moleques de hoje em dia pensa que “Everlast” é só nome de pilha.

No lado bom, algumas coisas continuam familiares. O Eminem toca no rádio. Empresas gigantes do mal cuidam dos eventos maiores e das estruturas de venda de ingressos. A maioria das músicas é feita com a combinação das mesmas 12 notas. E os artistas ainda criam esperando que as pessoas escutem seu som.

Por fim, o tamanho da plateia de um artista depende (como sempre) de uma combinação de talento, carisma, esperteza, esforço e sorte. Esse aspecto do negócio deve ser familiar para você também.

Mas aqui vai uma lista com dez coisas que MUDARAM no mercado musical nos últimos 15 anos:

1. Monetarização gira em torno de experiência, não de vendas

Há uma década, monetarizar a música ainda se tratava de vender CD e de coletar royalties.

Os formatos mudaram, é claro, e vimos a tendência dominante mudar de vendas de CD a downloads de MP3 downloads e a “streaming” (através de serviços como YouTube e Spotify) — mas a questão central é: ganhar dinheiro com música não é mais convencer um fã a comprar algo.

Para muitas pessoas, a definição de propriedade mudou. Hoje o importante é o aspecto social da música. Você agora ganha dinheiro quando consegue fazer que seus fãs façam algo COM a sua música, como por exemplo:

* compartilhar com os amigos nas redes sociais

* adicioná-la a uma playlist do Spotify

* criar um vídeo no YouTube que use uma canção sua

* e mais

A moral da história: Não seja sovina com sua música. Deixe as pessoas terem elas, compartilharem elas, amarem elas, usarem elas.

2. A imprensa não é mais monofacetada

Anos atrás, só importava se escreviam sobre sua música alguns veículos, como Rolling Stone, SPIN, The Source etc. Essas revistas impactavam muito na recepção dos fãs a novos artistas ou novas músicas. Hoje em dia, há muitos outros veículos (online e fora da internet), atendendo a todos os estilos e nichos; então você tem uma chance maior de ter sua música na imprensa. Essas são as boas novas. A má notícia é que resenhas não são mais tão relevantes.

Por haver um quinquilhão de bandas e um quinquilhão de blogs escrevendo sobre as músicas (a sua inclusive), uma única resenha entrevista ou matéria não vai mais fazer tanto estardalhaço no mercado da música ou numa comunidade maior de ouvintes como tinha 15 anos atrás. Mesmo grandes sites de resenhas, como o Pitchfork, não têm mais varinhas mágicas para apontar para bandas. Muitas bandas de quem eles falaram muito bem não estão bem das pernas (em termos de renda), enquanto outras que eles desancaram estão muito bem das pernas.

A moral da história: A imprensa musical é mais diversa, e o poder está mais diluído.

3. “Radio” ganhou um novo significado

Ligue o rádio do carro e, sim a música ainda sairá do alto-falante. Mas rádio terrestre (que se propaga por ondas) administrado por empresas não é mais a única opção para ouvintes descobrirem novos sons. As músicas mais novas e animantes de todos os estilos estão sendo tocadas em outro lugar: rádio por satélite, estações online e serviços de música customizáveis, como a Pandora, em podcasts ou em outros lugares.

Para aparecer bem nas paradas do rádio, sendo um artista independente, você precisaria de um milagre ou dezenas de milhares de reais, o divulgador. Em comparação, não só é possível conseguir tocar em rádios por satélite, online e comunitárias, é também fácil conseguir isso! Mas, assim como meu argumento sobre a imprensa, tocar em qualquer uma dessas formas de rádio não vai garantir uma campanha comercial de sucesso.

A moral da história: Você provavelmente não será a próxima Katy Perry sem a ajuda de uma grande gravadora, mas, diferentemente de 15 anos atrás, você PODE ser bem tocado e conseguir uma bela base de fases através de rádios não comerciais.

4. Gravadoras são sua última opção

Há 15 anos, quase toda banda que queria alcançar um público maior queria — ou até precisava (a não ser que você fosse o Fugazi) — de um contrato com uma gravadora. Agora, a maioria das bandas entende que conseguem ficar bem financeiramente ficando independente, tendo direito a suas gravações mestre, mantendo os direitos autorais e determinando o rumo da sua própria carreira.

Artistas independentes espertos, tipo Macklemore & Ryan Lewis, conseguiram construir times de profissionais ao seu redor para fazer distribuição, publicidade, marcar shows e afins — tudo sem assinar um contrato convencional. Hoje em dia, o artista É a gravadora.

Moral da história: Ser sua própria gravadora é duro, mas você colhe todos os frutos.

5. E-mail é mais importante que redes sociais

Se você estivesse fazendo música 15 anos atrás, é capaz que já tenha uma lista com e-mails dos seus fãs. Mas você perdeu (pelo menos no aspecto de negócios da música) o auge e a decadência do MySpace, assim como o aumento e a decadência do interesse pelo Facebook como ferramenta de marketing de música. Esses dois exemplos mostram que modas de redes sociais que vão e vêm, hábitos de internet mudam, mas o e-mail é para sempre. É por isso que construir uma lista de e-mails deve ser sua prioridade número 1. E um dos melhores lugares para começar a construir sua lista de e-mails é seu próprio site, um lugar onde VOCÊ controla e experiência do usuário.

Moral da história: A relação entre você e seus fãs deveria pertencer a… você e seus fãs — NÃO a alguém no Vale do Silício.

6. Seus fãs podem te ajudar a custear suas gravações, vídeos e turnês

… e eu não digo só comprando seus CDs, ingressos etc.

Plataformas como Kickstarter, PledgeMusic, RocketHub e IndieGoGo agora facilitam que artistas levantem dinheiro para seus projetos. O conceito é esse: muitos fãs fazem pequenas doações que, somadas, geram uma quantia significativa de dinheiro. Parece uma forma de mendigagem gloriosa? Repense. Crowdfunding (especialmente quando é para projetos de discos)  é basicamente um jeito de os fãs, amigos e família pré-encomendarem sua música. Além de que, eles têm a oportunidade de demonstrar seu apoio, sentir-se satisfeitos por te ajudar a trazer sua música ao mundo E receber regalos bacanas como retribuição sua.

Moral da história: Você não precisa se endividar com uma gravadora (aceitando dinheiro de adiantamento para gravar e fazer turnê) para conseguir levar sua música para o mundo. Agora seus fãs podem te ajudar a pagar a conta — e os direitos autorais continuam sendo seus.


7. As pessoas estão fazendo em seus computadores músicas tão boas quanto as gravadas em estúdios em 1960

Tecnologia! Você não precisa mais de uma sala enorme, uma mesa de mixagem gigante e um microfone de R$ 10.000 para criar gravações mágicas. É claro que nada supera os ouvidos treinados e a experiência de um ótimo engenheiro de som, mas ferramentas digitais e agora acessíveis às pontas dos seus dedos, VOCÊ cria essas capacidades de engenharia e de produção. Às vezes, as ferramentas de que você precisa cabem em um iPad, então você não precisa mais alugar um estúdio enorme.

Moral da história: gravar em casa ainda requer um ótimo ouvido, mas se você está disposto a colocar seu trabalho nisso, você pode fazer por conta própria um álbum que soe tão bem quanto tudo o que você ouve no rádio (exceto por alguns clássicos dos anos 1970, que nunca serão superados em qualidade por ninguém, em lugar nenhum, nunca ; ).

8.Sua música pode ser usada em filmes, na TV em comerciais e em videogames

Há 15 anos era praticamente inédito que um grande filme, programa de TV ou produtores de videogames usassem músicas desconhecidas em seus projetos. Agora isso é norma. Licenças de sincronização se tornaram uma das melhores maneiras de artistas independentes para ganhar dinheiro, seguidores e estabelecer a credibilidade de que precisa. O lado ruim disso é que, como em todas as oportunidades, TODO MUNDO está tentando fazer isso — então há muita competição por aí. E quando a oferta é grande, o dinheiro que você recebe por cada uso tende a ser menor, porque há milhões de outros que gostariam de ter essa exposição. Entretanto, no caso da TV, você começa a ganhar mais dinheiro na forma de royalties de execução a cada vez que um programa que usa sua música for ao ar.

Outra consideração sobre licenciamento e sincronização é que não importa a idade das suas músicas. Diferentemente de rádios onde DJs tendem a preferir lançamentos ou clássicos, produtores de áudio que escolhem as músicas para filmes e para TV não se importam com a idade da sua música (ou se ela já foi lançada comercialmente); eles só se importam se a música combina com a cena.

Moral da história: Todo seu catálogo de canções gravadas pode ganhar taxas de sincronização, então é uma boa ideia que TODAS as suas músicas estejam num catálogo de licenciamento.

9. O YouTube pode ser mais importante que qualquer outra coisa na sua carreira musical além de você mesmo, é claro.

O YouTube se tornou a ferramenta número 1 para a busca de novas músicas. É também a plataforma predileta do público mais jovem para ouvir música. Além do mais, o YouTube facilita compartilhar seus vídeos nas redes sociais. Como alguém que ficou distante por uns tempos, você vai querer colocar todas suas músicas no YouTube; ou estará perdendo outra oportunidade de lucrar com seu som (na forma do programa de anúncios YouTube ad revenue). Você não precisa fazer uma dúzia de videoclipes chiques, mas deveria ao menos começar a pensar em subir vídeos com a música e arte do álbum, bem simples, para cada canção.

Moral da história: o CD Baby  já pagou mais de um milhão de dólares em lucro com anúncios do Youtube a seus artistas independentes (alguns artistas chegam a ganhar US$ 40.000); você também deveria estar ganhando dinheiro no YouTube.


10. Para os artistas de hoje, várias pequenas fontes de renda se juntam formando um rio

Como eu disse acima, a monetarização da música, cada vez mais, está ligada a tornar seu som uma experiência  — e sites sociais de música tipo Spotify e YouTube estão facilitando para seus fãs compartilhar sua música. Quanto mais sua música for compartilhada, mais dinheiro você ganha.

Dito isso, há bilhões de pessoas no mundo que preferem comprar CDs e milhões de outras que preferem disco de vinil (sim, vinil — voltou), então você obviamente quer continuar oferecendo sua música em formatos físicos — especialmente se você tem estoques que sobraram de anos atrás. Para se somar à renda da venda de músicas, no formato virtual, no real e no “streaming”, você deveria também  estar ganhando royalties globais (inclusive  royalties mecânicos), tentando achar lugares de uso para sua música em comerciais e TV, fazendo turnês, fazendo crowdfunding e procurando patrocínios e parcerias com marcas que pensem como você.

Moral da história: Para citar um clichê do mundo dos investimentos, “diversifique!” Como artista independente, você tem MAIS oportunidades hoje de ganhar dinheiro do que nunca. Mas não há uma só estrada que leve ao sucesso; não existe um só jeito de financiar sua carreira.  Você precisa tirar proveito de todas as oportunidades de renda. Somadas, elas podem dar em algo grande.

Tenho certeza que muitas outras coisas também mudaram, mas esse foi só um curso-relâmpago para colocar você de volta ao mercado da música rápido.

Autor: Chris Robley / Fonte: Somos Música
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Marcelo Boratto
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